Em uma era onde jogos de ritmo se reinventam ao fundirem-se com gêneros como tiro, luta e plataforma, é fundamental revisitar os títulos que pavimentaram esse caminho criativo. Longe da febre dos periféricos de plástico, a série Patapon surge como um exemplo singular de inovação. Lançada originalmente para o PSP no final dos anos 2000, a franquia da Pyramid e da saudosa Japan Studio cativou jogadores com uma proposta que unia ritmo, estratégia e um carisma contagiante. Agora, a coletânea Patapon 1+2 Replay, publicada pela Bandai Namco, resgata os dois primeiros capítulos para uma nova geração.
Pata-Pata-Pata-Pon: Comandando com a Batida
A premissa de Patapon é elegantemente simples: o jogador não controla diretamente os personagens, mas assume o papel de uma divindade que os guia através do som de tambores sagrados. Cada um dos quatro tambores — Pata, Pon, Don e Chaka — corresponde a um botão, e a combinação de sequências rítmicas de quatro batidas dita as ações da sua tribo. Comandos como “Pata-Pata-Pata-Pon” os fazem marchar, enquanto “Pon-Pon-Pata-Pon” os comanda para atacar.

O segredo para o sucesso é manter o ritmo. Após executar um comando, os Patapons realizam a ação enquanto entoam seu próprio canto. O jogador deve esperar o fim da canção para rufar os tambores novamente, criando uma sequência. Acertar o tempo consecutivamente ativa o “Modo Fever”, um estado que potencializa os ataques e intensifica a música, transformando a trilha sonora em uma recompensa direta pela sua habilidade. É um loop de jogabilidade satisfatório e incrivelmente magnético.
Uma Jornada de Conquistas e Repetições
É aqui que um dos maiores desafios de Patapon se revela: a necessidade de grind. Para fortalecer seu exército, o jogador precisa coletar recursos para criar novas unidades — como lanceiros (Yaripon) e arqueiros (Yumipon) — e forjar equipamentos melhores. Embora seja possível criar um exército poderoso, isso exige tempo e paciência, tornando a jogabilidade, antes prazerosa, em uma tarefa repetitiva.

Patapon 2 expande essa base de forma inteligente, introduzindo novas classes, um sistema de evolução com elementos de RPG e a figura do “Heropon”, um herói customizável que adiciona profundidade estratégica às batalhas.
Um Espetáculo Audiovisual com Ressalvas
Visualmente, o Patapon remaster é um deleite. Seu estilo artístico minimalista, baseado em silhuetas e cores vibrantes, é charmoso e expressivo. A remasterização em alta definição realça essa identidade única, entregando animações suaves a 60 FPS. O áudio, no entanto, é a verdadeira estrela. A música é a própria jogabilidade, com a cantoria dos Patapons evoluindo conforme o desempenho do jogador.

A Coletânea: Um Resgate com Problemas
Apesar de preservar a magia dos originais, a coletânea Patapon 1+2 Replay apresenta falhas técnicas. O problema mais grave é o input lag (atraso nos comandos), especialmente ao jogar na TV, tornando a tarefa de manter o “Modo Fever” uma fonte de frustração. Além disso, a ausência de Patapon 3 impede que a trilogia seja experimentada em sua totalidade, e faltam conteúdos extras que poderiam enriquecer a experiência. Para o público brasileiro, a falta de tradução para o português é outro ponto negativo.
Vale a pena jogar Patapon?
Patapon 1+2 Replay é mais do que uma simples remasterização; é um tributo a uma das franquias mais criativas da era dos portáteis. A combinação de ritmo e estratégia continua genial. A coletânea acerta ao modernizar a interface e oferecer ajustes de dificuldade, tornando os jogos mais acessíveis.

No entanto, é uma experiência que brilha mais no modo portátil e com fones de ouvido com fio. Seus problemas técnicos podem decepcionar os fãs mais ardorosos, mas não anulam a força de seu design. Para novatos e veteranos dispostos a relevar suas falhas, a jornada para guiar os pequenos guerreiros ao som do “pata-pata-pata-pon” continua sendo uma experiência única e altamente recomendável.
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* Esta análise foi realizada com uma cópia fornecida pela Bandai Namco para Nintendo Switch